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Um outro fator importante é a água, ora a agricultura é a grande usuária de água no planeta. Além disso, a produção do biodiesel requer água para a separação do óleo dos outros constituintes já mencionados. Esta água não deve retornar a natureza, pois está contaminada com os resíduos impróprios à vida. Portanto, a recuperação da água e seu reuso no processo seria necessário, diminuindo o custo de captação da água na natureza.
Como se ver, a produção de biodiesel envolve uma cadeia de ações e de pesquisa para que se torne um produto de futuro. Isto abre um campo para a pesquisa genética de melhoramento de sementes e também para a instrumentação de modo geral e especificamente aplicada à identificação da qualidade do produto já que este terá no Brasil origens diversas.
Nesse campo da genética a Embrapa está dando a sua contribuição a anos, tanto na soja como no milho, agora na mamona e outras espécies de sementes adequada a esta finalidade, produção de óleo. A Embrapa Instrumentação Agropecuária está trabalhando no desenvolvimento de novos materiais poliméricos, como citado, e também em instrumentação para caracterizar sementes quanto ao seu teor de óleo com o objetivo de melhoramento e maior produção deste. Também está desenvolvendo uma instrumentação específica para detectar a qualidade do óleo e do combustível através de do fenômeno físico da ressonância da onda termo-acústica.
A ressonância ocorre constantemente na natureza. O nosso falar é um processo de ressonância; tocar um instrumento musical também ocorre ressonância. Esse fenômeno ocorre toda vez que um corpo, objeto ou uma corda de um violão vibra ao receber uma onda acústica. Um carro que passa na rua, seu ronco faz vibrar a vidraça, é um exemplo simples e cotidiano de ressonância.
No caso da ressonância termo-acústica, em desenvolvimento na Embrapa, é aplicada a combustíveis e óleo. Uma amostra deste é colocado em uma câmara especial onde é periodicamente e levemente aquecido. Uma freqüência de ressonância, amplitude e amortecimento da onda são determinados. Esses valores dão informações sobre o calor absorvido e a viscosidade do líquido. Estes são valores muito importantes para a qualidade do combustível. Essas informações são obtidas através dessa técnica em poucos segundos. Assim, podendo ser usada em uma linha de produção e verificação quase em tempo real.
Um outro aspecto desta reflexão é quanto à transformação de sementes, fontes de alimentos principalmente para o ser humano, em combustíveis. Os países ricos como os Estados Unidos e a Alemanha usam basicamente a soja e a canola como as sementes fontes para o biodiesel. Eles não têm a variedade de espécies de sementes que existem no Brasil. A soja, por exemplo, é largamente plantada em vários países e por isso apresenta maior volume de estudos, mas não é aquela que tem grandes teores de óleo. Requerendo grandes áreas plantadas para poder dar rendimento.
Deixo para o leitor as seguintes reflexões: será interessante transformar alimentos em combustível? Será que investindo em pesquisa de melhoramento genético das mais variadas sementes e em instrumentação não se chegaria a algumas espécies que superariam os teores de óleo atualmente vigentes? Será que não se conseguiria espécimes mais produtivos em menores áreas plantadas? Para essas e outras questões só tenho uma resposta: acredito que sim, o futuro dirá.